Influência da falta de esgotamento sanitário na disseminação de zoonoses
Resumen
O sistema de esgoto sanitário é um dos serviços de saneamento básico, seu objetivo é coletar o esgoto doméstico e transportá-lo para uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), para que atinja parâmetros seguros a fim de ser devolvido a natureza (rios ou lagos) (BRASIL, 2022). Sua necessidade faz parte de um conjunto de soluções propostas para resolver os problemas de saúde pública e poluição ambiental, com o objetivo de prevenir doenças e elevar a qualidade de vida (RIBEIRO & ROOKE, 2010). Devido ao rápido crescimento demográfico, ocorreu uma urbanização intensa e desordenada com infraestrutura inadequada e alta produção de resíduos não tratados. Embora a falta de acesso ao esgotamento sanitário não seja o único fator, é um dos agentes responsáveis pelo aumento do número de casos de doenças zoonóticas endêmicas e epidêmicas (CYSNE, 2019). Zoonoses são doenças transmitidas dos animais para o ser humano assim como, de humanos para os animais, e são patologias de alta relevância na saúde pública que se manifestam principalmente em zonas de clima tropical e subtropical, como é o caso da região central e sul do continente americano. Essas enfermidades estão intrinsecamente relacionadas ao baixo desenvolvimento socioeconômico, por conseguinte, têm sua relevância global negligenciada (RODRIGUES et al, 2017). A predominância do clima quente e úmido no território brasileiro é favorável para a sobrevida da leptospira, bactéria causadora da leptospirose (doença sazonal com picos epidêmicos no verão e na época das águas) (RODRIGUES et al, 2017). O contágio ocorre por meio do contato direto com a urina, sangue, tecidos ou órgãos de roedores infectados ou, mais comumente, de maneira indireta através da interação com água contaminada pela urina de ratos carregadores da bactéria (ALVES et al, 2023). A proliferação de doenças transmitidas por mosquitos como dengue, Zika, Chikungunya e febre amarela é uma consequência de ações humanas como a ocupação desordenada que torna inviável o acesso ao saneamento básico e permite o surgimento de novos criadouros para o Aedes aegypti, mosquito transmissor dessas doenças (CYSNE, 2019; BRASIL, 2021b). Outras doenças transmitidas por mosquitos incluem a leishmaniose, umas das doenças prioritárias para a saúde pública devido a sua gravidade e correlação entre número de casos e fatores ambientais (COSTA, J., 2005); e a malária, afecção transmitida pelas fêmeas do mosquito do gênero Anopheles e uma das doenças com maior mortalidade e alta morbidade em países tropicais e subtropicais (BRASIL, 2023). Ademais, existe uma gama de doenças cujo esgoto não tratado ou a ausência de esgotamento influencia diretamente, como as causadas por microrganismos presentes em excrementos, por exemplo a Salmonella, Escherichia coli e cólera. Contudo, tais condições ambientais também propiciam indiretamente enfermidades como doença de chagas, tifo e raiva (NASCIMENTO & VAN DER SAND, 2007). O objetivo desta revisão é expor a influência da falta de esgotamento sanitário sobre a incidência de doenças zoonóticas e os aspectos que afetam sua disseminação, abordando os fatores que interferem na manutenção do ciclo dos agentes etiológicos e dos vetores para desencadear alterações epidemiológicas.